Lembro-me de uma época, que eu
era "crente", tão crente que acreditava no mundo e no meio em que eu
vivia.
Quase uma alienada (Aquele
que está afastado, sem vínculo, separado. Diz-se de pessoa que não se interessa
pelos acontecimentos do país ou do mundo, ou que não tem conhecimento da
realidade social).
Muito focada no meu drama pessoal, em
casa cuidando dos filhos e do marido.
Ai eu tive que trabalhar, e o choque do
mundo real com a minha realidade me impactaram!
Amadureci e percebi que o mundo real era bem diferente do
meu mundinho.
O tempo
passou, muitas coisas aconteceram e cá estou eu novamente acomodada no meu
mundinho, trabalhando em uma sala fechada sem contato com muitas pessoas e me
esquecendo da realidade dura que esta do lado de fora da minha sala. Vez ou
outra uma janelinha se abria e passava um de pouquinho de realidade.
Mas, este
último mês, saltei sem paraquedas bem no centro de uma realidade que nunca
antes tinha presenciado.
Pessoas!
Pessoas que
dependem de pessoas para viver!
De tantas
histórias, esta semana conheci uma senhora que me fez chorar.
O nosso
encontro começou conturbado, pois ela estava muito brava e queria o seu direito
a qualquer custo, neste caso era uma cirurgia de glaucoma.
Fui atrás da informação e quando voltei, ela
me agradeceu e me explicou o motivo da sua indignação.
No dia 24 de dezembro de 2012 o seu filho que
estava organizando a humilde recepção em comemoração à formatura no curso de
medicina no dia 7 de janeiro seguinte, foi assassinado. Um jovem de 28 anos gêmeo
de outro que morreu aos 20, de uma família sem pai e muito humilde. Ela tinha
na bolsa só remédios, o que indignou os assaltantes e atiraram nela, mas o
filho se atravessou na frente da bala que pegou em cheio no peito dele.
Caíram no chão, sonhos, planos, promessas...
Foram anos sonhando e planejando o dia em que ele seria médico e daria a ela a
vida que ela merecia, pelo sacrifício de ajuda-lo durante todos os anos de
estudo. Um filho temente a Deus, que honrava a sua mãe. Uma mãe que tem deficiência
física em uma das pernas e caminha com ajuda de muletas e agora esta ficando
cega!
Pediu-me desculpas por ter sido agressiva comigo,
pois quando fui falar com ela não queria saber de conversa.
_“Perdi tudo na minha vida!” Meus dois
filhos, estou viva pois meu coração bate, mas dentro eu não tenho vida, só uma
esperança! Tenho certeza que vou encontrar meu filho outra vez no céu. Só não
quero perder a pouca visão que ainda tenho, pois não tenho ninguém mais por
mim.
Contou-me, que o filho morreu falando e
pedindo a ela que não fizesse nada contra os seus assassinos, pois eles não
sabiam o que estavam fazendo.
Imagina se não chorei junto com ela!?
A população que viu o que aconteceu, reagiu
capturando os rapazes que atiraram nele, bateram muito e a policia chegou.
Antes mesmo que a ambulância chegasse, a mãe
de um dos assaltantes já estava conversando com policiais e negociando a fuga.
Eles foram colocados no camburão, mas não chegaram à delegacia.
220 volts de realidade!
Ah, ela vai operar na próxima quinta-feira.
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